terça-feira, 11 de outubro de 2011

Theodor W. Adorno, Fetichismo da Mercadoria e a Música Evangélica Brasileira

“Fetiche” segundo o Dicionário Aurélio é “Um objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto”.
Se utilizando deste termo, Karl Marx em, O Capital, discorre sobre um fenômeno de atribuição de valor simbólico aos produtos (manufaturas), que deixam de ter seu valor determinado pela quantidade de trabalho empregado na sua fabricação e são precificados por aspectos subjetivos, não mensuráveis, criando uma valoração supera em sua precificação. A este fenômeno Marx chamou de Fetichismo da Mercadoria.


Theodor Ludwig WiesXengrund-Adorno, filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão, membro da Escola de Frankfurt, tratou o tema Fetichismo da Mercadoria, abordando principalmente a idéia de Música Fetichizada. Entre as várias obras que escreveu sobre o tema estão, Sobre o Caráter Fetichista da Música e a Regressão da Audição, em 1938.


O fenômeno observado por Theodor Adorno em sua época, quando desenvolveu importantes pesquisas no "Princeton Radio Research Project", se repete no “mercado gospel” brasileiro atual, onde a música evangélica tem se evidenciado como um bem de consumo muito mais precificado pelo seu valor de troca que pelo seu valor de uso.


Nos últimos anos, após conhecer um vertiginoso e lucrativo crescimento nas gravadoras denominadas cristãs, a música “gospel” brasileira se tornou também em uma importante fatia de mercado de grandes gravadoras seculares, e o que antes era gravado em estúdios improvisados, com poucos equipamentos e recursos de marketing para promoção, tem hoje toda a tecnologia e verbas disponíveis dos conglomerados midiáticos seculares nacionais.


Reconhece-se que a qualidade técnica das gravações da música evangélica brasileira precisava realmente melhorar, era necessário se profissionalizar, e isto aconteceu. Entretanto música cristã não é feita apenas de claves musicais, é também e principalmente ideológica, e ai os questionamentos levantados por Adorno nas reflexões sobre a música de sua época parecem fazer ainda mais sentido para a música cristã atual. O que chamamos de “Louvor a Deus” pode se tornar um produto? É justo se pagar um cachê de R$ 25.000,00 a um cantor por 2 horas de “Show”? Vemos hoje cantores cristãos famosos se preocupando muito mais em manter sua imagem “popular” para o meio secular, do que se comprometendo com verdades cristãs/bíblica, basta observar programas de “domingo a tarde” para ver estes mesmos cristãos fugindo de assuntos dogmáticos com medo de perder seu público cativo.


Enquanto isto as palavras de Cristo ainda ecoam “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem." (João 4 : 23). Fica a reflexão.


Bibliografia:
ADORNO, T.W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
ADORNO, T.W. Analytical study of the Recebido e aprovado em maio de 2003 music appreciation hour. The Musical Quarterly, Oxford, v. 78, n. 2, p. 326-377, 1994.